Em caso de dúvida, mata!
Um dos melhores livros (neste caso conjunto de) que já li foi a trilogia que acabou por se tornar pentalogia "The hitchickers guide to the galaxy" de Douglas Adams. O autor, já desaparecido, presenteia-nos com uma visão caotica, cinica e provavelmente bastante aproximada do que será a realidade desta nossa bolha cósmica. Ora a paginas tantas de um dos livros travamos conhecimento com uma das raças (ainda se pode usar esta palavra?) mais sui generis de todo o universo Adamsiano, os humanóides habitantes do planeta Cricket. Estes homens(?), banais e muito frugais não despertariam mais atenção que um grupo de hippies alemães na costa alentejana não fosse a singularidade que envolveu (literalmente) o seu planeta e consequentemente as suas vidas banais. Cricket, o planeta, desde tempos imemoriais se viu envolvido numa espessa nuvem de poeira cosmica, tornando assim impossivel qualquer vislumbre de outros astros ou qualquer sinal do universo exterior, agradável, não? Os habitantes deste mundo nunca questionaram o facto, para eles irrevogável, de que se encontravam sós, inapelavelmente sós num universo também ele aparentemente banal e certamente muito frugal em termos criativos. Certo dia, levavam os cricketianos as suas vidas o melhor que sabiam e podiam, zás! Cai-lhes uma nave espacial com motor e tudo estratosfera a dentro, esborrachando-se na crosta do planeta como só uma queda de várias centenas de milhar de metros pode fazer. Á parte do barulho, puluição e óbvios inconvenientes que uma cratera pode causar á vida banal de tais seres, o maior de todos os problemas foi explicar de onde teria surgido tal artefacto. Se se lembrarem os Cricketianos nem sequer teriam conhecimento de outros planetas quanto mais de vida para além de Cricket. Mas, como quando um homem pensa não há só gaivotas em terra, logo concordaram que a geringonça teria de provir de algum lado, logo haveria mais lados (para além de Cricket), logo, havendo mais lados haveria mais pessoas, logo não estavam sozinhos! Por esta altura já não havia sinal de gaivotas em solo firme em Cricket, foram anos a estudar os destroços, anos de planos, anos de invenção, a engenharia apareceu, a fisica, a quimica , depois a aeronautica, a termodinamica dos motores, dezenas de homens pereceram em testes falhados. Até que, anos e anos depois, os Cricketianos obtiveram sucesso no lançamento de um dos seus (três mais precisamente) para lá da sua atmosfera. O que viram deve ter sido um bocado como sair da gruta de platão e olhar para o céu. Estava ali. Todo o universo teimosamente escondido pela nuvem de poeira surgiu como, bem, como só o universo com o seu tamanho estrondosamente desadequado a criaturas das nossas dimensões pode surgir, ele, todo ali. Ao retornarem, e depois de serenarem os animos, impôs-se-lhes tomarem uma decisão. O que fazer com esta nova, estarrecedora quantidade de informação? E, mais importante o que fazer quanto ao facto cada vez mais evidente da existencia de vida inteligente(?) para além de Cricket? Parecia-lhes óbvio que no meio de tanta diversidade haveria formas de vida amigaveis e outras hostis. A historia ensinara-lhes também que um ser hostil pode vir a ser pacífico, também o outro lado era verdade, um ser pacífico poderia muito facilmente tornar-se hostil. Depois de muita discussão em torno desta última questão os Cricketianos tomaram a unica decisão que do seu ponto de vista os protegeria de qualquer duvida, agressão, e basicamente de qualquer mal entendido entre eles e os outros.
Decidiram exterminar todas as formas de vida (todas!) não Cricketianas do universo. Dessa maneira voltariam a sentir a segurança que sentiam outrora.
Bonito não acham? O vislumbre do universo em toda a sua dimensão (mesmo as parcelas já têm o seu efeito) enche-nos de um temor primitivo, convulso, e só nos apetece voltar para dentro de nossas casas, acender a lareira, e esperar que o tédio absurdo das nossas vidas tome de novo o seu lugar apagando o horror absurdo de entendermos.
Então aqui fica o meu desejo natalicio para 2004, se vir algo ou alguém que lhe suscite duvidas, destrua, mate, extinga.
Se tal não for possivel ignore-o e a "coisa" desaparecerá, mas isso já é outra estória...
Decidiram exterminar todas as formas de vida (todas!) não Cricketianas do universo. Dessa maneira voltariam a sentir a segurança que sentiam outrora.
Bonito não acham? O vislumbre do universo em toda a sua dimensão (mesmo as parcelas já têm o seu efeito) enche-nos de um temor primitivo, convulso, e só nos apetece voltar para dentro de nossas casas, acender a lareira, e esperar que o tédio absurdo das nossas vidas tome de novo o seu lugar apagando o horror absurdo de entendermos.
Então aqui fica o meu desejo natalicio para 2004, se vir algo ou alguém que lhe suscite duvidas, destrua, mate, extinga.
Se tal não for possivel ignore-o e a "coisa" desaparecerá, mas isso já é outra estória...